E aí, gente? Mekicestão?
Vocês sabem o que são “Hepatites”? São doenças inflamatórias do fígado, que podem ter diversas causas, como álcool e outras drogas, vírus, doenças autoimunes, causas genéticas e metabólicas. Mas como estamos em Julho, a campanha Julho Amarelo chama atenção especificamente sobre as Hepatites Virais. Então vamos falar sobre as diferenças entre elas. Bora lá?
Pouca gente sabe, mas as hepatites virais podem ser causadas por cinco tipos diferentes de vírus, diferenciados pelas letras do alfabeto: vírus A, vírus B, vírus C, vírus D e vírus E. No Brasil, as mais comuns são as causadas pelos vírus A, B e C. O vírus E é mais frequente na África e na Ásia.
Vou falar um pouquinho de cada um deles:
HEPATITE A
Vírus: HAV, um vírus de RNA.
Como se pega: A hepatite A, também conhecida como “hepatite infecciosa”, é transmitida pela via fecal-oral, por contato entre indivíduos ou consumo de água ou alimentos contaminados. Assim, é importante sempre lavar as mãos após ir ao banheiro e antes de preparar a comida, lavar com água tratada os alimentos que consumimos crus e cozinhar bem as carnes. Nos locais onde não há saneamento básico, os cuidados devem ser dobrados. Tudo isso porque, além do vírus ter uma estabilidade grande no ambiente, crianças podem eliminá-los pelas fezes por até 5 meses depois da resolução clínica da doença. Também há relatos de contaminação por prática sexual anal.
Sintomas: Geralmente não apresenta sintomas e tem apenas a forma aguda da hepatite, sem potencial para a forma crônica, ou seja, o paciente pode se recuperar totalmente, eliminando o vírus do organismo. Na maioria das vezes tem caráter benigno, mas os sintomas e a letalidade podem aumentar com a idade. Quando o paciente tem sintomas, são bastante inespecíficos: cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras e costumam aparecer de 15 a 50 dias após a infecção, durando menos de dois meses. Pode ser fulminante em menos de 1% dos casos.
Diagnóstico: O diagnóstico é realizado por exame de sangue, no qual se procura por anticorpos anti-HAV, tanto IgM, que mostra uma infecção inicial, quanto IgG, anticorpo de memória que pode indicar infecções anteriores ou resposta à vacina. De qualquer forma, após a evolução para a cura, os anticorpos impedem uma nova infecção.
Tratamento: Não há tratamento específico para hepatite A. É extremamente importante evitar a automedicação, uma vez que os medicamentos podem ser tóxicos para o fígado, o que pioraria o quadro. O médico irá prescrever o tratamento correto para o paciente, que, se seguir as recomendações, inclusive mantendo uma dieta balanceada e a hidratação, a doença será totalmente curável, sem a necessidade de hospitalização, indicada apenas em casos de insuficiência hepática aguda. Existe atualmente disponível pelo SUS a vacina para Hepatite A, altamente eficaz e segura para a prevenção da doença. Porém, ela só é recomendada em situações especiais, como pacientes com doenças hepáticas crônicas ou transplantes de medula óssea, por exemplo.
HEPATITE B
Vírus: HBV, vírus de DNA de fita dupla da família Hepadnaviridae.
Como se pega: O HBV está presente no sangue, sêmen, saliva e leite materno. Portanto, a Hepatite B é considerada uma Infecção Sexualmente Transmissível (IST), daí a importância do uso da camisinha. Também é possível a transmissão vertical (da mãe infectada para o feto), pelo parto ou amamentação. Outras formas de transmissão incluem o compartilhamento de material para uso de drogas, objetos de higiene pessoal (como escovas de dente, lâminas para depilação ou alicates de unha), confecção de tatuagens, inserção de piercings e transfusão de sangue contaminado. A vacina para Hepatite B está disponível pelo SUS e é prevista no calendário de vacinação infantil, mas é importante lembrar que ela só é eficaz com a aplicação das três doses.
Sintomas: A maioria dos casos de Hepatite B não apresenta sintomas. Mas, os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras, que costumam aparecer de um a seis meses após a infecção. A Hepatite B pode se desenvolver de duas formas, aguda e crônica. A aguda é quando a infecção tem curta duração e a crônica quando dura mais de seis meses. O risco de a doença tornar-se crônica depende da idade na qual ocorre a infecção, sendo as crianças as mais afetadas, chegando a 90% naquelas com menos de 1 ano.
Diagnóstico: O diagnóstico da Hepatite B pode ser feito através de sorologias específicas ou de teste rápido. Testes rápidos são imunoensaios cromatográficos de fácil execução, por meio de uma gota de sangue, e podem ser realizados em até 30 minutos. São considerados fundamentais para ampliação do acesso ao diagnóstico precoce. Porém, necessita de testes sorológicos para confirmar, caso seja reagente.
Tratamento: Após o resultado positivo para a Hepatite B, o médico indicará o tratamento adequado, disponível gratuitamente pelo SUS, seguindo protocolos do Ministério da Saúde. Além dos medicamentos (quando necessários), indica-se corte no consumo de bebidas alcoólicas pelo período mínimo de seis meses e remédios para aliviar sintomas como vômito e febre. Importante lembrar que a Hepatite B não tem cura e que o tratamento disponibilizado pelo SUS objetiva reduzir o risco de progressão da doença e suas complicações, especificamente cirrose, câncer e morte.
HEPATITE C
Vírus: HCV, constituído por RNA de fita simples e pertence à família Flaviviridae.
Como se pega: A Hepatite C é transmitida principalmente pelo sangue, portanto, transfusão de sangue infectado, compartilhamento de material para uso de drogas, higiene pessoal (lâminas de barbear, escovas de dente ou alicates de unha, por exemplo), confecção de tatuagem e colocação de piercings. A transmissão vertical é possível, mas mais rara. Transmissão sexual, sobretudo entre parceiros heterossexuais é menos frequente e, por isso, não é considerada uma IST. Porém, entre homens que fazem sexo com homens e na presença da infecção pelo HIV, a via sexual deve ser considerada para a transmissão do HCV, já que o HIV é um facilitador da infecção pelo HCV. Importante citar que quem recebeu transfusão de sangue no Brasil antes de 1992, pode ter a doença, já que não havia testagem para HCV antes desse período.
Sintomas: Assim como a Hepatite B, o surgimento de sintomas em pessoas com Hepatite C aguda é muito raro. Entretanto, os que mais aparecem são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Por se tratar de uma doença silenciosa, é importante consultar-se com um médico regularmente e fazer os exames de rotina que detectam todas as formas de hepatite. Quando a infecção pelo HCV persiste por mais de seis meses, o que é comum em até 80% dos casos, caracteriza-se a evolução para a forma crônica. Cerca de 20% dos infectados cronicamente pelo HCV podem evoluir para cirrose hepática e cerca de 1% a 5% para câncer de fígado.
Diagnóstico: O diagnóstico pode ser feito através de sorologias específicas ou de teste rápido, que deve ser confirmado quando reagente. Também podem ser feitos exames de biologia molecular para detectar o tipo de HCV e sua carga viral. Todas as pessoas com mais de 40 anos devem realizar este exame ao menos uma vez na vida.
Tratamento: O tratamento da Hepatite C depende do tipo do vírus (genótipo) e do comprometimento do fígado (fibrose). Para isso, é necessária a realização de exames específicos e o médico indicará o cuidado mais adequado após os resultados. O tratamento para Hepatite C está disponível gratuitamente no SUS e é feito com os chamados Antivirais de Ação Direta (DAA), que apresentam taxas de cura de mais 95% e são realizados, geralmente, por 8 ou 12 semanas e possibilitam a eliminação da infecção. O diagnóstico precoce da hepatite amplia a eficácia do tratamento e é bom lembrar que não há vacina para a doença.
HEPATITE D
Vírus: HDV, um vírus de RNA incompleto, que precisa do HBV para se replicar.
Como se pega: A hepatite D, também chamada de Delta, depende da presença do vírus do tipo B para infectar uma pessoa. O vírus da hepatite D, o VHD, é incompleto e precisa do antígeno de superfície HBsAg para se replicar. Assim, as formas de infecção são as mesmas da Hepatite B. Existem duas formas de infecção pelo HDV: coinfecção simultânea com o HBV e superinfecção do HDV em um indivíduo com infecção crônica pelo HBV. A Hepatite D crônica é considerada a forma mais grave de hepatite viral crônica, podendo evoluir para a morte.
Sintomas: Da mesma forma que as outras hepatites, a do tipo D pode não apresentar sintomas ou sinais discretos da doença. Os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. A gravidade da doença depende do momento da infecção pelo vírus D.
Diagnóstico: O diagnóstico sorológico da Hepatite D é baseado na detecção de anticorpos anti-HDV e, caso reagente, a confirmação será feita através do somatório de informações clínicas, epidemiológicas e demográficas. Também pode ser realizada a pesquisa e quantificação do HDV-RNA através da biologia molecular, mas que atualmente é feita apenas em caráter de pesquisa clínica. A biópsia do fígado também pode ser feita.
Tratamento: O tratamento está disponível gratuitamente no SUS, seguindo protocolos do Ministério da Saúde, o Protocolo Clínico e Diretrizes Terapêuticas para Hepatite B e Coinfecções. Os medicamentos não levam a cura da Hepatite B, apenas objetivam o controle do dano hepático. Quando há infecção simultânea dos vírus D e B, o tratamento não é específico e a recomendação médica consiste em repouso, hidratação, alimentação leve e o não consumo de bebidas alcoólicas. Quando a infecção pelo HDV ocorre em pacientes crônicos de Hepatite B, o fígado pode sofrer danos severos, como cirrose ou até mesmo formas fulminantes de hepatite. Pelo caráter grave dessa forma de hepatite, o diagnóstico deve ser feito o mais rápido possível e o tratamento só pode ser indicado por médico especializado.
HEPATITE E
Vírus: HEV, de RNA e pertencente à família Caliciviridae.
Como se pega: É transmitida principalmente pela via fecal-oral através do consumo de água contaminada, mas também pela ingestão de carne mal cozida ou produtos de materiais infectados (fígado de porco, por exemplo),transfusão de produtos de sangue infectados e transmissão da mãe para o bebê durante a gravidez (transmissão vertical).
Sintomas: O HEV causa hepatite aguda de curta duração e autolimitada (entre 2 e 6 semanas), tendo caráter benigno na maioria dos casos. Pode ser grave em gestantes (particularmente no segundo ou terceiro semestre, com um maior risco de insuficiência hepática, perda fetal e até mortalidade) e raramente evolui para infecções crônicas em pessoas com algum tipo de imunodeficiência. Como as outras variações da doença, quase não apresenta sintomas. Porém, quando aparecem, os mais frequentes são cansaço, tontura, enjoo e/ou vômitos, febre, dor abdominal, pele e olhos amarelados, urina escura e fezes claras. Esses sinais costumam aparecer de 15 a 60 dias após a infecção. Crianças geralmente são assintomáticas ou apresentam apenas uma doença leve sem icterícia que não é diagnosticada.
Diagnóstico: O diagnóstico é realizado por exame de sangue, no qual se procura por anticorpos anti-HEV. Anticorpos IgG anti-HEV são encontrados desde o início da infecção, com pico entre 30 e 40 dias após a fase aguda da doença, e podem persistir por até 14 anos. O HEV pode ser detectado em amostras de fezes por RT-PCR.
Tratamento: Na maioria dos casos, a doença não requer tratamento e não tem um específico, sendo proibido o consumo de bebidas alcoólicas, recomendado repouso, hidratação, dieta pobre em gorduras e evitar a automedicação. A internação só é indicada em pacientes com quadro clínico mais grave, principalmente mulheres grávidas. Em pacientes imunossuprimidos há o risco de infecção crônica pelo vírus da hepatite E (HEV) e necessidade de tratamento com antivirais.
E aí? Espero ter informado!
Fontes: GIV, DIVE, Secretaria da Saúde do Paraná, Ministério da Saúde.
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